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Se nada mais der certo pra mim, pego esse computador bato na cabeça do meu patrão até ele desmaiar, depois roubo um caminhão e dirijo a noite toda como um prisioneiro fugitivo, aí vou para a amazonia onde começarei vida nova com uma criação de peixes voadores...
"Quando a humanidade erra, os Deuses tratam de puni-la com morte, praga, fome e guerras; mas e quando os Deuses erram? Quem os pune? E que tipo de punição eles terão?"

-Bem-vindos a Saga dos Assassinos de Deuses

Alma Nova 13 - Somos O Que Devemos Ser, Somos Quem Podemos Ser

No Capitulo Anterior de Alma Nova... 
A “Resistência Aioros” começa a se organizar e Hana aceita o papel imposto de Athena e, ao mesmo tempo em que questões importantes são discutidas, Ares continua a perder o controle para com o Santuário e para com ele mesmo. Enquanto tramas e estratagemas estão sendo traçados, Marin, descoberta como uma traidora, começa a ser torturada por Moses de Baleia e Asterion de Cães de Caça, que planejavam com isso trazer para uma armadilha parte dos “traidores” ou pelo menos o irmão da amazona. 
Marin conseguirá escapar? Hana será realmente Athena? Saga voltará à tona para deter os planos malignos de Ares? Não percam mais um capitulo de Alma Nova.

*****

Milo estava em um humilde casebre, sentado com um nutritivo prato de sopa na mão, alimentando uma jovem que estava deitada em sua frente. Ela estava em um estado deplorável, sua pele estava solta nos ossos, flácida e suja, completamente doente. Nada que ele fizesse a ajudaria, até mesmo aquele sorriso sedutor que desmancharia o coração dela naquele momento não era nada.

O futuro cavaleiro de escorpião, o qual adorava sua vida mundana à sua vida sagrada, agora só queria ter uma vida divina, para tirar toda a dor e a tragédia de um único ser... Dela.

- Vamos, coma garota. Como você quer melhorar sem se alimentar? – dizia Milo pelo quinto dia seguido. Seu treinamento havia parado devido a um cavaleiro que havia enlouquecido e começado a fazer chacinas pelas vilas da Itália. Como havia mais gente cuidando da caça desse famigerado criminoso, ele ficou para cuidar das vítimas. Não sabia se felizmente ou infelizmente, ela era a única.

- Sabe que não tenho fome, sabe que eu não tenho sede e que só posso morrer quando aquele demônio que matou minha família e destruiu minha vila morrer(?)/ for capturado(?)/ tiver o que merece(?). Aquele demônio que destruiu minha vida. Se eu tivesse poder para matá-lo, eu teria um objetivo, mas só pude ver minha vila ser carbonizada. – Não havia emoção nas palavras dela, só havia certeza e fatos inexoráveis.

- Já lhe contei que estamos trabalhando nisso, já te contei sobre o que nós fazemos. Vamos pegá-lo e dar-lhe uma lição que ele não gostará. Portanto, considere-o morto. Vamos falar mais sobre o que você vai fazer da sua vida. – dizia Milo com seu melhor sorriso e com seu tom de voz mais animador. – Você só não vai poder contar o que fazemos, a menos que você queira ser do Santuário. Não há apenas cavaleiros, ou aprendizes de cavaleiros como eu, mas também há oficiantes, gente que faz o bem, mas não luta...

- Já te disse, só quero ter a certeza de que quando eu morrer, ele já esteja morto. Não quero saber se irei viver, apenas quero que ele morra. – dizia olhando para o fundo dos olhos do escorpiano.

Havia tanta certeza naqueles olhos quanto a de um cavaleiro de ouro experiente, havia as dores físicas, e também as emocionais, de um treinamento de um cavaleiro de ouro podiam ser facilmente vistas ali. Havia um motivo para um querer, maior que a própria vida. Havia uma banalização da morte. Milo não apenas sentia pena, mas sentia como se estivesse falando com um cavaleiro de Athena ou qualquer outro servo de qualquer outro deus. Sentia-se conversando com uma igual, uma solidariedade. Tinha um sentimento que poderia ser ele naquele estado, uma compaixão não apenas por ela ser uma vítima.

Abruptamente, além disso, sentia aquele cheiro adocicado de rosas cortando sua nostalgia de memórias. Via-se novamente sentado nas escadarias da oitava casa zodiacal, com o cavaleiro de peixes em pé a sua frente.

- Se eu fosse um inimigo, você poderia ter morrido. – dizia Afrodite.

- É... – dizia Milo com seus pensamentos ainda naquela mulher em cima daquela cama. – Eu poderia ter morrido...

E havia apenas um nome gravado no oitavo degrau da oitava casa zodiacal, escrito pelo prenuncio da agulha Antares.

Irynna.



*****



No orfanato Filhos das Estrelas, todos ainda estavam recuperando as forças para o próximo passo da resistência. Thouma foi colocado no quarto de Mihu, com a mesma como sua companhia. Ela fazia questão de trocar as bandagens do cavaleiro de Pegasus e observar se sua febre havia passado. Havia alguma coisa no ruivo que a deixava com o mais puro desejo de protegê-lo, cuidar de suas feridas, como se pudesse acontecer qualquer coisa com ele, mesmo que sentisse que ainda sim ele sempre voltaria para ela.

Mihu ria de si mesma. Sempre foi uma moça certa e direita, tinha seus pretendentes, mas sempre esperava que fosse alguém de sua idade, ou de sua realidade pelo menos. Ele era exótico demais para ela, mas nada a proibia de sonhar.

Thouma estava melhor que Isaak, mas era o segundo pior em condições físicas. Algumas de suas feridas, causadas ainda pelos golpes da amazona de Fênix, tinham sido abertas. Havia também as sequelas do Golpe Fantasma, que não deixava sua mente funcionar sem flashs daquele pesadelo quase real. Apesar de suas condições físicas, ele admitia intimamente que era bom ser cuidado daquela forma pela garota de cabelos azuis. Ela trazia um pouco de amenidade aos pesadelos que sofria mesmo quando acordado.



*****



No hall de entrada, estava Kiki, dormindo sentado em um dos sofás, Garan, Shun, Hana e Okko, por sua vez, estavam apenas a discutir. O cavaleiro de Dragão, apesar de não ser o melhor em forma física, parecia ser o único capaz de dar atenção aos planos da Resistência, Isaak, Thouma e Shiryu estavam em uma grave situação, e Pandora estava cuidando do cavaleiro de Cisne e do jovem cego. Cabia a ele, portanto, saber dos próximos passos.

- Okko, não é?! – perguntava Garan, sendo confirmado pelo próprio. – Fico imensamente agradecido pelo que você e os outros cavaleiros de bronze fizeram até agora.

- Não precisa agradecer. É nossa missão e fomos treinados para isso. Pelo menos eu. – dizia Okko, que lembrava de Isaak, apesar de ter duvidado, ter lutado ao lado deles, e também de Esmeralda, que se converterá no ultimo momento, e que morrera ao lutar contra Shaka, um dos cavaleiros de ouro.

- Tem razão. – dizia Hana saindo dos braços de Shun, indo abraçar o cavaleiro de Dragão. – Muito obrigada. Não agradeci a vocês ainda por cuidarem de mim e por me protegerem. Obrigada, por tudo. Espero que eu possa retribuir essa confiança que vocês depositam em mim.

Okko ficava constrangido, não sabia lidar com situações onde violência não era necessária, não sabia se deveria retribuir ao abraço ou manter-se impassível. Mas aquele afeto era bom, era calmante. Dava a sensação de querer sempre defendê-la.

- Fico mais tranquilo em saber que ela está em boas mãos. Posso partir em paz. – diz Garan.

- Como assim, mestre Garan? – Indagava Okko, com Hana olhando-o também com a mesma pergunta com nos olhos.

- Não posso ficar, estava para me encontrar com mestre Mu para discutir os próximos passos. Ia com Marin, mas ela foi designada para uma missão. Quis passar aqui antes de ir para tal encontro para encontrar Athena em sua forma humana. – diz Garan. – Mas não se preocupe. Vocês são capazes de proteger Athena, custe o que custar. Inclusive, pedi para mais um dos nossos aliados vir para cá ajudar. Sinto seu cosmo, ela já deve estar por perto.



*****



Marin novamente acordava com uma dor enorme, só lembrava-se de ter resistido bravamente à leitura mental de Asterion e depois de ter sido espancada agressivamente por Moses. Não pode ao menos lutar por ter se concentrado tanto em não deixar sua mente fraca, o corpo cedeu em uma rigidez quase cadavérica. Não lembrava muito bem como estava naquela situação. Depois do espancamento, provavelmente uma amnésia temporária acontecia devido a algum trauma ocorrido, esperava que não fosse craniano.

Pelo menos, eles não haviam tirado sua máscara, por mais que fossem facínoras, respeitavam a ordem de nunca retirar a máscara de uma amazona. Ou apenas esperavam fazer isso em um momento mais propício.

Via o mundo de cabeça para baixo, via que estava crucificada na praia e de cabeça para baixo. Sentia mais dor do que nunca, mas ainda forçava o bloqueio mental, sua vida não valia nenhuma informação sobre a Resistência Aioros. Na verdade, ela tinha que dar um jeito para derrotar os dois mesmo naquele estado. Os cavaleiros de bronze tinham sobrevivido e possivelmente estavam com Athena. Se fossem descobertos, Athena estaria em risco.

Era difícil manter a concentração com tantas dores fazendo parecer que sua cabeça iria explodir, e ainda mais planejar. Porém, bastaria um erro, e todos os sacrifícios feitos até agora iriam ser em vão. Tinha que se manter firme. Olhava para seus dois inimigos e tentava ouvi-los, mas o barulho do mar e suas próprias dores abafavam o som de suas vozes.

Asterion percebe que ela estava acordada, e já se punha a caminhar em sua direção. Marin tentava escapar, porém além de pregada estava amarrada, incapaz de liberar seu cosmo. Não era uma guerreira como Moses, era uma planejadora, assim como Asterion.

- Vejo que acordou e mesmo depois de tantos ferimentos aposto que está usando todo o cosmo que lhe resta para manter seu maldito bloqueio mental, não é?! – Asterion aplica um soco na mandíbula da ruiva. – Não se preocupe, vamos dar um jeito de chamar seu irmãozinho, é evidente que ele está vivo. Se ele for seu irmão consanguíneo mesmo, será mais fácil achá-lo ainda. A ressonância de seus cosmos deve ser parecida, bastar usar você como filtro e trazê-lo aqui! Só espero que ele não tenha tanta fibra quanto você.

Asterion colocava uma das mãos em cima da máscara da amazona de Águia, nada ela poderia fazer para detê-lo. Não podia negar o que ela era realmente, irmã de Thouma de Pegasus...



*****



- Como assim não há notícias dos cavaleiros de prata enviados para o Japão? – Gigars estava desesperado, pois cinco cavaleiros de prata tinham partido para missões simples. Estava testando demais a paciência do Grande Mestre e a misericórdia de Athena.

- Os cavaleiros de Centauro e Lagarto não deram noticias, os de Águia, Cães de Caça e Baleia apenas informaram que encontraram o corpo dos cavaleiros de bronze da rebelião, além de Docrátes, mas isso já tem mais de 3 horas, estamos sem comunicação alguma. – Piton dizia sem ao menos olhar a face de seu mestre, abaixado em servidão para o homem mais próximo de suceder o Grande Mestre Ares. Era difícil para ele dar notícias de fracasso, mas ele tinha que as reportar.

- Isso são péssimas noticias. Era simplesmente para os cavaleiros negros matarem aquela falsária, junto com Docrates que seria nomeado outro traidor, e Shaka mataria todas as testemunhas. Simples, mas tinha que haver intromissão dos cavaleiros de bronze e sabem-se lá quem mais que está nesse complô. – O asqueroso cavaleiro de Altar, com seu olho de joia, tinha engasgos de frustração pelo seu plano perfeito ter ido por água abaixo. – Só pode haver um traidor aqui para essa maldita rebeliãozinha ter tanto êxito assim.

- E de quem suspeita, mestre? O nível de informação que eles teriam haveria de ser no mínimo um cavaleiro bem próximo do Grande Mestre, do senhor e de Athena. – dizia Piton, que de repente engasgava, pois ele poderia ser um dos suspeitos.

- É difícil saber, nem mesmo eu poderia saber de tantas coisas. Apenas se o próprio mestre ou nossa Athena tivesse falado para com a Resistência. Tem que ser alguém bem manipulador e que esteja bem debaixo de nossos narizes. Teria que ser alguém disposto a isso e que tenha agido estranho desde a tomada desse plano. – Por um momento, algo parece fazer sentido na cabeça de Gigars. – Onde está Shina, a amazona de Cobra?

-Shina? Não há mais sinais dela desde que o irmão de Marin conseguiu vencer o discípulo dela, que era o irmão de Docrates. – Ao dizer essas palavras, encaixavam a mesma situação em sua cabeça.

- Shina é a nossa traidora...



*****



Thouma estava numa praia deserta, sem alma viva alguma por perto. Tudo que via eram as ondas do mar, indo e voltando lentamente, em sua dança marítima eterna conhecida como maré. Era um ambiente de calma e paz, mais do que ele sentia, desde muito tempo. Tudo era tão previsível, com uma plenitude infinita.

Daquele horizonte azul algo se destacava: uma cruz invertida. Forçando um pouco mais a vista, via uma mulher crucificada de cabeça para baixo, com o nível do mar chegando aos seus olhos. Tentava levantar-se, mas os sangramentos de vários ferimentos recentes tinham exaurido suas forças por completo, era sua própria vontade de viver contra um corpo fatigado querendo apenas desistir. O cavaleiro de bronze reconhecia aquela mulher. Era a amazona de prata da constelação de Águia. Era Marin, sua irmã, sua mestra, sua família. Correu em sua direção aflito, desesperado para salvá-la.

Ao tocar na água, surgiu um homem enorme, cheio de cicatrizes e com um olho perdido, que o pegou pelo rosto para afogá-lo em quinze centímetros de água. Thouma apenas podia respirar quando a maré se afastava. Nesses breves momentos, foi ainda capaz de notar que esse cavaleiro não estava sozinho, viu mais um par de pés, que depois se tornaram três pares, e depois ainda nove, para depois apenas ser novamente afogado pela maré que voltava.

De repente, era jogado para o ar com uma força arrebatadora. Não conseguia mover um músculo sequer com o atrito do ar em seu corpo. Não conseguia respirar, e em um último flash de consciência, via as nuvens como chão e o céu escurecendo cada vez mais. Quando recuperava a consciência novamente, estava caindo, ainda sim, sem poder se mover.

Conseguia ver na queda o chão se aproximando. O que eram cores voltavam a ser a praia, aquele monstro que o havia arremessado e aquela centena de cavaleiros idênticos, até que tudo se tornou apenas o punho daquele cavaleiro acertando-o em cheio, estourando seu elmo, e lhe causando um traumatismo forte.

Caía inerte no chão, agradecendo por não estar morto, arrastava-se para salvar sua irmã, até ser puxado por um dos cavaleiros, que eram muitos e um só ao mesmo tempo, sendo agredido por apenas um, enquanto todos os outros observavam sadicamente seu massacre. Não conseguia levantar-se mais, nem ao menos rastejar.

Enquanto o cavaleiro não parava de se multiplicar, um dos milhares homens que estavam a sua volta abaixou-se e disse:

“Venha nos deter, senão faremos coisa muito pior com sua irmã do que espancá-la e matá-la.”

Thouma levantou-se e disparou um raio, mas quando viu estava no orfanato com um enorme rombo feito em uma das paredes. Mihu olhava-o assustada por conta desse ataque. Não entendendo nada, Pegasus cai exausto sendo amparado pela governanta do orfanato que trata de colocá-lo em cima da cama novamente com grande esforço.



*****



June chegava à costa com Spika e Heda ainda desmaiados na jangada que eles escaparam da devastação do cavaleiro de Touro sobre a ilha de Andrômeda. Confiava que seu mestre, um dos principais homens da “Resistência Aioros”, o de prata mais poderoso, poderia lutar de igual para igual, porém já havia um bom tempo que não sentia mais os cosmos de ambos.

Olhava para praia, enquanto esperava Albior aparecer ferido, pois uma luta entre dois cavaleiros de ouro poderia durar até mil dias. Mas encontrou o cavaleiro de Cefeus mais cedo do que esperava. Chorava em desespero, seu mestre e seu pai estava morto ali na sua frente. Boiando com a armadura de Cefeus destruída, e com uma rosa fincada no peito.

Os poderes do cavaleiro de Touro superaram o cavaleiro protetor da ilha de Andrômeda. O ódio cegava June, porém ela não gritava, pois seus companheiros precisavam de descanso e não precisavam ver isso.

A pergunta que restava era: como o Santuário descobriu, se apenas a alta-cúpula da “Resistência” sabia quem eram os cavaleiros, e se todos tivessem metade do caráter e devoção à verdadeira Athena que Albior tinha, eles nunca falariam. Apenas uma palavra veio iluminar sua mente: Pandora.

Eles foram traídos por Pandora e eles teriam que detê-la antes que ela mesma desse um jeito para destruir a Resistência ou mesmo matar Athena a mando de Ares e da falsa Athena. Mas primeiro teria que enterrar um nobre cavaleiro.



*****



Adentrava na porta do orfanato, uma jovem de cabelos e olhos tão azuis quanto um céu de um dia de sol radiante. Mesmo naquela altura da madrugada, nada dela estava a mostra, estava coberta por mantos além de uma máscara que lhe cobria o rosto, apenas deixando que, de relance, fosse vista uma tatuagem no antebraço direito com o nome de Athena em grego arcaico. Ela parecia trazer paz àquele ambiente.

- Apresento a vocês a Sacerdotisa Lynna, irmã do cavaleiro de ouro Kamus de Aquário. Ela é uma poderosa sacerdotisa, uma ótima amiga e um ser único e iluminado. – Sorria Garan ao apresentar a amiga de longa data.

- Exagera nas palavras, nobre amigo. Sou assim como você uma serva aos desígnios de Athena e da justiça. Não atuando como guerreira, mas sim como uma guia, um oráculo para Athena e seus servos combatentes. – dizia a sacerdotisa Lynna, com sua voz abafada pela máscara, mas ainda sim, uma voz melodiosa.

- Uma sacerdotisa mascarada, mestre Garan? De acordo com os tomos antigos apenas as guerreiras de Athena, a apenas as guerreiras sagradas devem esquecer sua feminilidade e abraçar a causa de Athena. – dizia o Cavaleiro de Dragão, citando as sagradas escrituras de Athena, quase que literalmente.

- Muito bem, mestre Okko. – dizia Lynna sinalizando para Garan não intervir em sua explicação. – Sou amaldiçoada, o primeiro cavaleiro que olhar para meu rosto irá se apaixonar imediatamente. Por isso, fugi do Santuário há muito tempo. Escapei da tirania de Ares e da falsa Athena, muitas sacerdotisas foram mortas para a farsa de Ares não ser descoberta. Sou uma das poucas vivas.

- Sei que não faço parte dessa revolução. – O diretor do Orfanato começava a falar. – Mas o que uma sacerdotisa iria ajudar nessa guerra? Ao que parece, vocês precisariam de guerreiros e não de sacerdotes.

- Eis que você se engana, mestre Shun. – diz Garan. – Ela cuidará que Hana manifeste e controle seus poderes como deusa. Já que esse seria o dever do Grande Mestre. Mas deverei partir, tenho encontrar a Alta-Cúpula da resistência e ver como vamos fazer para atacar o Santuário.



*****



O cavaleiro de ouro da casa de Touro estava boquiaberto com o que o cavaleiro de Cefeus havia dito para ele. Todo Santuário era manipulado por uma falsa Athena, e o Grande Mestre na verdade não era quem dizia ser. Era difícil acreditar naquilo, era uma época boa para o mundo, já havia no mínimo alguns anos que não havia uma guerra santa. O máximo que havia eram os problemas internos do Santuário que ecoava o nome de Aioros até hoje. Mas nunca houve tantas mortes entre os aprendizes que discordavam do avatar de Athena ou mesmo das decisões do Grande Mestre.

Acreditava em castigos, mas não em execuções sumárias, mas esse era o atual ambiente do santuário de Athena. Admitia que ser um cavaleiro de Athena não era uma profissão, mas sim uma vocação, um talento, um dom, e não uma maldição, como muitos diziam. Na verdade, “ser cavaleiro de Athena é uma maldição” era uma das frases mais proferidas nessa época. Talvez Aldebaran fosse o único que acreditava que ser um cavaleiro de Athena, não era uma maldição.

Ao conversar com Albior, não via um traidor, ou mais um que dizia que ser um cavaleiro de Athena era uma maldição. Muito pelo contrário, podia-se quase tatear o orgulho de ser um santo-guerreiro de Athena. Sua devoção, o carinho que ele falava dela, a honra de ser um cavaleiro, a benção de ser alguém com o poder de servir a uma causa maior, e a mesma coisa ele sentia pela Resistência Aioros. Sentia-se conversando consigo mesmo.

Realmente, era muito difícil compreender as escolhas de cavaleiros dessa geração, era estranho. Era difícil acreditar que Máscara da Morte era um cavaleiro como ele. Era muito difícil compreender as coisas como eram sob a ótica de quem está dentro do problema.

Era muito mais fácil acreditar que uma falsa deusa estava no Santuário sendo manipulada por um ex-Cavaleiro que deseja ter os domínios de Athena, usando de artimanhas como mentiras, devoção, fé, discórdia... Por mais que ele quisesse acreditar nas duas versões, a verdade estava em uma linha tênue entre as duas linhas de pensamento. O melhor que ele podia fazer era no momento se omitir e deixar que os fatos se mostrarem para ele. Pelo menos, Albior estava vivo, era o beneficio da duvida que o cavaleiro de Touro dava para a famigerada “Resistência Aioros”...



*****



Há 23 anos atrás...

Um jovem lemuriano estava consertando a armadura de Aries, que há muito tempo havia sido danificada, mesmo em tão baixa idade, ele era o Mestre de Jamiel. Não se achava digno de tal missão que lhe foi passada, existiam poucos de seu povo. Ele era dos raríssimos que não tinha uma gota de sangue humano em suas veias, era apenas por isso que era o Mestre de Jamiel. Terra adotada pelo povo escolhido de Athena.

Na verdade, seu mestre é que deveria estar em seu lugar, mas por coincidência ele também era o Grande Mestre do Santuário. Shion, o cavaleiro da casa de Aries, um dos dois únicos sobreviventes da última guerra contra Hades que se tem registro. Achava que o outro sobrevivente, o humano conhecido como Mestre Ancião, deveria cumprir essa missão, mas eles tinham seus motivos e ele não iria discordar de cavaleiros de tamanha sabedoria.

A armadura de Aries estava prestes a ser concluída, o jovem Mu usava de seu próprio sangue para consertar as armaduras. Afinal, era a armadura de seu mestre, o qual ele mesmo tinha uma devoção e orgulho de ser seu discípulo. O que geralmente acontecia, era que um cavaleiro desse o sangue para consertar a armadura do discípulo. Era um trabalho solitário, mas ser um lemuriano era ser solitário. Vivendo três vezes mais que um humano normal, Mu já teve sua fase revoltada, teve família, tentou fugir de seu fardo, mas viu toda a sua família mudar, envelhecer e morrer, enquanto ele continuava o mesmo.

Sem ao menos sentir qualquer cosmo, sentia uma mão em seu ombro enquanto deixava a mente voar e a inspiração de sua arte de ferreiro vibrar por suas mãos. Ao olhar para trás via seu mestre sobre as vestimentas do sacerdócio. Sorria para o mesmo, por ele mesmo ver que seu trabalho estava sendo feito o melhor possível.

- Mestre Shion, fico imensamente feliz por vê-lo aqui. Estava exatamente trabalhando em sua armadura. – dizia Mu.

- Vejo que fiz a melhor das escolhas ao torná-lo mestre de Jamiel. – Sorria por debaixo da máscara. – Só esperava que eu pudesse doar meu sangue para a armadura de Aries, a qual já me salvou diversas vezes a vida.

- Preferi fazer do meu, para o senhor carregar um pouco de mim quando voltar a vesti-la. – dizia o mestre de Jamiel, que na presença do Grande Mestre do Santuário se sentia um feliz aprendiz.

- Estou velho para isso, meu caro. Se tiver mais vinte anos de vida será muito. Meu ciclo de vida está acabando e um novo ciclo de vida deve começar. – Shion passava as mãos nos pulsos cortados de Mu, cicatrizando imediatamente os ferimentos. – Você é o novo cavaleiro de Aries.

- Como assim, mestre? – Mu estava surpreso com o fato, sentia um misto de sentimentos e confusões. – Eu sou meramente o ferreiro.

- Não diga isso, você tem o poder, o coração e a alma de um cavaleiro. E você será necessário para alguns anos, os quais possivelmente você será o líder de nosso povo, assim como eu sou. Você é como um filho para mim, em quem mais posso confiar? – As palavras do antigo cavaleiro de Aries não eram, como eram sempre, as ordens de um líder sábio, mas sim o pedido de um pai amoroso. – Estou vendo uma sombra no futuro e temos que estar preparados para o que pior aconteça. Estou dedicado demais procurado a pessoa que trará Athena a esse mundo. Portanto, passo a você o dever de cuidar de Jamiel, de encontrar e treinar o futuro mestre de Jamiel e um futuro Grande Mestre para suceder meu escolhido.

- Eu? Porque, mestre? E como assim o sucessor do seu escolhido? – Mu estava demasiadamente confuso com tudo aquilo.

- Sim, temo que teremos outra guerra santa se aproximando, e creio que eu já esteja morto antes dela acontecer. Gostaria que você fizesse isso, e quando eu partir, procure o mestre Ancião. Ele guiará você. – O grande mestre rasgava um de seus pulsos e colocava o sangue na armadura. – Queria que você fosse o novo grande mestre, mas nós, lemurianos, somos um povo de paz, Lemuria deixou de existir a muito tempo, o real dever de escolhas deve vir de um humano, o povo protetor de Athena.

Mu ainda estava confuso com tudo isso, estava feliz de ser essa pessoa que seu mestre confiava, e estava triste, pois sabia que nem mesmo os lemurianos eram eternos, havia um pingo de esperança que Shion fosse, mas infelizmente ele não era.

- Procure dois discípulos e os treine de acordo com o seu coração. Esses dois serão o futuro de uma geração de paz. – Shion fechava o próprio ferimento. – Sorria, cordeiro de Athena, pois você é a pessoa que vai continuar o meu legado de Mestre de Jamiel e de como Cavaleiro de Aries.

O novo cavaleiro sorria e chorava de emoção e se colocava a trabalhar na sua nova armadura, feita de seu sangue e do sangue de seu mestre. Uma verdadeira armadura lemuriana, usaria-a como todos os lemurianos antes dele. Com honra, proteção e amor.

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